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Archive for maio 2012

Crônica do Semeador

By : Kadu

Estou eu aqui, estudando Teologia Bíblica do Plantio de Igrejas, do meu curso de Teologia, e me deparo com essa linda crônica, escrita pelo excelente Ronaldo Lidório na Revista Ultimato, no ano de 2008. Excelente conexão do meu professor e bem pertinente para o momento que eu, Lily e Yasmin estamos passando atualmente.
Por isso, deleite-se!!


Lendo a parábola do semeador e o Salmo 126 lembrei-me de muitos amigos e vários missionários. Veio forte a cena dos semeadores de hoje. Aqueles que falam de Jesus, visitam de casa em casa, servem o caído, cuidam do enfermo e enfrentam seus medos.
Alguns lutam a vida inteira contra problemas maiores que eles. É a seca do sertão que causa fome, miséria e exclusão social, do corpo e da mente. As famílias carentes e outras sem teto que parecem se multiplicar a cada dia nas grandes cidades. A enfermidade e epidemias que assolam, sem piedade, justamente os lugares com menos assistência de saúde.
Alguns trabalham longe, aprendendo línguas complexas, estudando a cultura de um povo diferente, com clima diferente, sempre mais um lugar a chegar e uma nova barreira a ultrapassar. Outros trabalham perto, lutam nas selvas de pedra. Seu povo não alcançado encontra-se em condomínios fechados, no frenesi das ruas, hospitais lotados, escolas e cárceres. Falam de Jesus e saem de casa orando por oportunidades diárias - e não as perde.
O Salmo 126 nos fala sobre a relação entre a caminhada e o choro. Quem sai andando e chorando enquanto semeia voltará para casa com alegria trazendo seus feixes, o fruto do trabalho. Para cumprirmos o ministério que Jesus nos confiou é necessário andar e chorar. E é certo que muitos fazem ambas as coisas. Tantas idas e vindas, caminhos incertos, a impressão de que há sempre mais um passo a dar, alguém a ajudar, uma pessoa a evangelizar. E as lágrimas, que descem abundantes com a saudade que bate, a enfermidade que chega, o abraço que não chega, o fruto que não é visível, o coração que já amanhece apertado, o caminho que é longo demais.
Creio que temos andado e chorado. Mas voltaremos um dia, trazendo os frutos, apresentando ao Cordeiro e dando glória a Deus! Poderá ser amanhã, ou em algum momento ainda distante. Mas ainda não é hora de voltar. É hora de seguir, andando e chorando, com alegria no coração e sabendo que não trocaríamos esta viagem por nenhuma outra na vida. O grande consolo e motivação é que não andamos sós. Ele está conosco. E maior é Aquele que está em nós. Portanto não desistimos, olhando o horizonte que se aproxima e trazendo à memória o que pode nos dar esperança.

Guarde seu coração enquanto anda e chora. Não perca a alegria de viver e caminhar, nem a mansidão, nem a oração, ou o humor, ou o amor.
Não deixe de semear mesmo quando está difícil. Lance a semente em todas as terras. Uma semente há de germinar e talvez a mais improvável. A que menos promete. Não dê ouvidos àquele que diz que não vai acontecer porque a terra é árida, você é incapaz, o povo nunca muda, o problema é grande demais, o sol é forte e o vento está chegando. Lance a semente.
Lançamos as sementes que o Senhor nos deu e quase sempre há um preço alto a pagar, por isto choramos enquanto semeamos. Tenho observado os semeadores. Uma enfermeira brasileira atendeu 221 pessoas em um só dia na África sob um calor de 42 graus durante 17 horas ininterruptas. Era uma epidemia que chegava e os próximos dias seriam mais difíceis. No Marrocos um missionário Britânico, para trabalhar com os moradores do lixo, passou também a viver no lixo, durante anos e anos. Um jovem Ganense viajou todo seu país alertando sobre a AIDS, de bicicleta e só, com um sorriso nos lábios. Era ele mesmo portador do HIV. Um pregador de rua, falando em uma praça em Manaus, incansável durante horas em uma segunda feira a tarde. Gritava e dizia: hoje é meu dia de folga, e estou aqui e não em casa porque vocês são importantes para Deus. As sementes são diferentes. Para lançá-las é preciso chorar pois freqüentemente há um preço a pagar. Um pagou com o suor, outro com a abnegação, ainda outro dedicou seu tempo e o último entregava seu único dia de folga. Pague o preço, lance a semente e sirva a Jesus.
Abrace o que também anda e chora que está ao seu lado. Ele talvez se sinta só e pense que é o único que chora enquanto caminha.
Andar e chorar é cumprir a missão. É também um grande privilégio. Um dia você voltará... mas talvez não seja hoje. Se você pensou em desistir da sua caminhada e o coração, abatido, não encontra mais prazer em semear, olhe para o alto e faça um compromisso com seu Deus: mesmo chorando, andarei um pouco mais! Sim, haverá o dia de voltar... mas ainda não chegou. Na força do Senhor continue a caminhar... e chorar... e semear... e sorrir, porque estamos aqui, na lavoura do Pai. Não há lugar melhor.

O arbusto e as águas amargas

By : Kadu


Meditação baseada em Exodo 15:22-27


"Corre pra mim!"
Isso é o que Deus me disse esse dias atrás. Ele sabe que nessa caminhada vou acabar passando por alguns momento de sequidão. Talvez passe alguns dias sem conseguir matar minha sede, e mesmo quando encontrar água, pode ser que esta seja amarga, imprópria para beber.
É assim com você também? Você passa por momentos assim? Está passando por momentos assim?
A ideia é ir atrás de Deus e do arbusto, pra aplicar o arbusto na água amarga, tornando-a própria para o consumo. O arbusto pode muito bem representar Cristo aqui. Coloque Cristo naquilo que pode matar a sede mas é amargo, nas situações que parecem impróprias para saciar em momentos de sequidão.
Isso porque Deus sabe, e eu e você também, que temos a tendência de procurar ou de ir atrás de águas amargas pra matar nossa sede. Acabamos por correr atrás de nossa própria força e capacidade (água amarga). Com isso não percebemos que Ele talvez nos faça encontrar primeiro as águas amargas simplesmente pra que tenhamos a experiência com o arbusto (com Cristo). Afinal, ou Ele quer testemunhar para outras pessoas com o milagre do arbusto purificando a água, ou simplesmente Ele sabe que logo a frente, a próxima parada nessa caminhada da vida, é em lugar como Elim, com 12 fontes de águas e a simbra de 70 palmeiras.
Mais uma vez, dentre as milhares de vezes que Deus fala o mesmo: "descanse em mim", "confie em mim", "corre pra mim"!
Afinal, Ele está nos dirigindo!

O sândalo e o machado

By : Kadu
Anos quarenta. Cabelos brancos e os solenes casaco preto e calça listrada, traje usual dos homens da geração anterior. De quando em quando ele aparecia lá em casa, nos meus dias de menino. Geralmente portava duas grandes valises, pesadas de tanto vidro que levavam; eram quadrinho simples, feitos com gravuras recolhidas em toda porta e coladas sobre um fundo branco no qual se escrevia com normógrafo e lápis crayon, frases bonitas, muitas das quais versículos bíblicos; o contorno era uma largo passe-partout preto. 
Ele fora pastor dos meus avós e morava então na região serrana do estado. Jubilado, viajava para visitar antigas ovelhas. Para ajudar na singela aposentadoria, vendia os quadrinhos. Lembro-me da imagem de um deles: uma caravela em um mar revolto; de outro, só recordo a legenda: "Seja como o sândalo, que perfuma o machado que o fere".
Essas imagens sempre se acendem em minha memória lembrando-me do cuidado que devemos dispensar àqueles que se dedicam à pregação do evangelho. É verdade que, de modo geral, os novos tempos trouxeram melhor e mais confortável situação - mais compatível com a dignidade da alta missão que desempenham - para os pastores locais.
Dói-me o coração, no entanto, ver que na maioria das vezes o mesmo não acontece com os missionários. Não sei por que a igreja, como um todo, não costuma prover o sustento dos missionários em moldes semelhantes aos dos pastores locais. Antes, obrigam-lhe a cavar o próprio sustento nas muitas comunidades que visitam para divulgar o trabalho.
A pulverização das fontes de sustento traz o desconforto de o missionário normalmente ter de sacrificar as férias no Brasil (quando missionários no exterior), para visitar, em outras cidades, as igrejas que o sustentam, a fim de lembrar-lhes que ele ainda está vivo e trabalhando. Ademais, acontece por vezes de o sustento ser suspenso por motivos diversos: durante o período de férias do missionário, sob a alegação de que a manutenção é apenas para o campo; porque a igreja local resolveu priorizar construções ou reformas; ou, ainda, porque houve mudança de pastor da igreja local e o novo não tem visão missionária.
Será que, egoisticamente, estamos pensando que missionários são como madeira de sândalo, e nos comprazemos em ficar perfumados enquanto os ferimos?

Texto extraído da Revista Ultimato, edição março-abril 2012, de autoria Antonio Carlos W. C. de Azeredo, presbítero da Igreja Presbiteriana Nacional, em Brasília, e membro do Conselho de Evangelismo e Missões da mesma Igreja.

Meu comentário é que já escrevi algum tempo atrás sobre isso e sofri com algumas respostas, muitas não postadas como comentário, talvez por medo das pessoas se identificarem.
Creio que, no momento em que o missionário precisar de tratamento médico-psiquiátrico por entrar em "parafuso" sem ter tempos de qualidade em férias e lazer no seu trabalho, aí sim começarão a compreender essas necessidades financeiras. Talvez seja tarde demais...
E ainda tem gente que manda dinheiro pros péssimos "pastores" televisivos manterem seus milionários programas e padrão de vida com jatinhos, mansões, carrões, roupas de grife..., sejamos mais inteligentes e auto-críticos pra responder a pergunta final do texto: "Será que, egoisticamente, estamos pensando que missionários são como madeira de sândalo, e nos comprazemos em ficar perfumados enquanto os ferimos?"

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