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Archive for outubro 2009

Cidadão

By : Kadu



Cidadão - Zé Geraldo

Composição: Lucio Barbosa



Tá vendo aquele edifício moço?
Ajudei a levantar
Foi um tempo de aflição
Eram quatro condução
Duas pra ir, duas pra voltar
Hoje depois dele pronto
Olho pra cima e fico tontoMas me chega um cidadão
E me diz desconfiado, tu tá aí admirado
Ou tá querendo roubar?
Meu domingo tá perdido
Vou pra casa entristecido
Dá vontade de beber
E pra aumentar o meu tédio
Eu nem posso olhar pro prédio
Que eu ajudei a fazer

Tá vendo aquele colégio moço?
Eu também trabalhei lá
Lá eu quase me arrebento
Pus a massa fiz cimento
Ajudei a rebocar
Minha filha inocente
Vem pra mim toda contente
Pai vou me matricular
Mas me diz um cidadão
Criança de pé no chão
Aqui não pode estudar
Esta dor doeu mais forte
Por que que eu deixei o norte
Eu me pus a me dizer
Lá a seca castigava mas o pouco que eu plantava
Tinha direito a comer

Tá vendo aquela igreja moço?
Onde o padre diz amém
Pus o sino e o badalo
Enchi minha mão de calo
Lá eu trabalhei também
Lá sim valeu a pena
Tem quermesse, tem novena
E o padre me deixa entrar
Foi lá que cristo me disse
Rapaz deixe de tolice
Não se deixe amedrontar
Fui eu quem criou a terra
Enchi o rio fiz a serra
Não deixei nada faltar
Hoje o homem criou asas
E na maioria das casas
Eu também não posso entrar


Fui eu quem criou a terra
Enchi o rio fiz a serra
Não deixei nada faltar

Hoje o homem criou asas
E na maioria das casas
Eu também não posso entrar




Meu comentário:


É triste constatar o fato de que, ao invés de usarmos as coisas, criadas por Deus para auxiliar seres humanos em suas relações interpessoais e para o bem da comunidade em geral, temos usado as pessoas, as relações interpessoais e a comunidade em geral pra mantermos as coisas funcionando bem, excluindo até o criador de todas elas.

A humildade

By : Kadu


Ae povo querido..., só posto artigos de outros quando estão ligados com meus pensamentos e meditações atuais, sejam discordando ou concordando, ok? Não é simplesmente falta de criatividade, mas é que tem gente que escreve e expressa idéias muito melhor que eu..., quem acompanha o blog há mais tempo sabe do que estou falando!

Então segue abaixo mais um ótimo artigo que não fui eu quem escreveu:


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Sobre a humildade, concordo com André Comte-Sponville: "Não é a ignorância do que somos, mas, ao contrário, conhecimento, ou reconhecimento de tudo o que não somos". É a admissão de que cheguei onde estou sem gabar-me: "sou o que sou pela graça".
Quando penso em humildade, acompanho Dwight Moody: "O homem pode demonstrar um falso amor, uma falsa fé, uma falsa esperança e outras graças, mas jamais poderá simular humildade". Também concordo com Stanley Jones: "A essência do divino é a humildade. O primeiro passo para encontrar a Deus é destruir nosso orgulho".
A humildade não sobrevive sem que se aniquilem as falsas onipotências. O petulante não admite fragilidades, não reconhece limites, não aceita inadequações. O soberbo se embrutece porque é insaciável. Apropria-se da pergunta do poeta: "Por que não é infinito o poder humano, como o desejo?" Dionisíaco, atropela quem estiver na frente. Odeia ser frustrado.

Spinoza dizia que "a humildade é uma tristeza nascida do fato de o homem considerar sua impotência ou sua fraqueza". Nietzsche bateu o martelo: "Conheço-me demais para me glorificar do que quer que seja". E Comte-Sponville conclui: "O que é mais ridículo do que bancar o super-homem?... A humildade é o ateísmo na primeira pessoa: o homem humilde é ateu de si, como o não-crente o é de Deus".
A humildade e a gratidão necessitam uma da outra. O humilde sabe que não se fez; não é o self-made man, que se recusa a reconhecer os que lhe ajudaram nos primeiros degraus. Sente-se devedor dos pais que se sacrificaram para que estudasse, dos professores que lhe incutiram valores, dos amigos que nunca censuraram na vergonha, dos poetas que traduziram beleza, dos profetas que lhe falaram em nome de Deus. Nos solilóquios, repete: "Não sou a causa de mim mesmo; vejo nos outros a raiz da minha alegria; celebro o meu presente como um dom".
A humildade é esvaziamento. O prepotente não consegue amar. Só quem abre mão dos controles sabe  deixar-se invadir pela compaixão.
Simone Weil afirmou que "o amor consente tudo e só comanda os que consentem em ser comandados". Amor é renúncia. Não existe a possibilidade de coerção e amor se misturarem. O pretensioso é inflexível, impaciente e estúpido. O humilde recua, na recusa de exercer força, poder, violência.
A humildade é demasiadamente discreta. Se pretendo, um dia, ser humilde ninguém pode perceber. Mas, espero aprender a não cobiçar a divindade.
Soli Deo Gloria


by Ricardo Gondim, para o site Guia-me.

vazio...

By : Kadu


Ontem fui a um "culto" de uma igreja daqui da cidade. Fato que deveria ser mais normal, mas não tem sido não, confesso..., e não como erro, mas confesso que não me sinto atraído por aquilo que tem se chamado de "culto" ultimamente.
Sabe aqueles momentos de extremo vazio na sua vida?? Sabe aqueles momentos em que você vai a uma festa de aniversário de alguém que não tem amigos em comum com você? E você fica como peixe fora d'água? Sabe o que é sentir um vazio enorme, onde o ideal era nos sentirmos satisfeitos? Sabe quando você fica "morrendo" de sono mesmo diante de barulho, som alto, gente falando, de tão chato que está o momento?
Foi esse misto de sentimentos e perguntas que ficaram na minha cabeça ontem. E não, não desprezo a presença do Deus vivo, o poder das escrituras, a maravilha da oração, a liberdade da graça, etc...
Mas parece que não se dava atenção alguma a nada disso lá!! Dava-se atenção a uma liturgia bem distribuída e um monte de dogmas sendo cumpridos. Faltava vida!!! Faltava movimento!! Faltava espontaneidade!!!
Com tudo isso ficava me perguntando se era possível ser sincero ali. Se poderia compartilhar minhas experiências, meus pecados, minhas dificuldades..., livremente. Se poderia interromper há qualquer momento o decorrer da liturgia pra pedir uma oração, dar uma palavrinha pra alguém, orar por outros..., sei lá..., algo espontâneo..., será??
Ouvi a palavra e me concentrei, pedindo para, no mínimo, Deus falar algo pra mim que tivesse a ver com nosso relacionamento, nossa amizade, e não com o que tava rolando ali..., e o pregador da noite trouxe uma palavra sobre Salmo 34:8: "Provai e vede que o Senhor é bom. Como são felizes os que nele se refugiam".
Com toda (nítida!) falta de preparo, falta de experiência, sem exegese, hermenêutica ou homilética alguma lá se foi o pregador a falar sobre provar. Repetiu várias vezes a mesma coisa. Se mostrou preocupado com sua própria inexperiência pedindo desculpas. Repetiu mais algumas várias vezes a mesma coisa. E sim, Deus falou comigo. Esse texto foi muito propício pra um momento que tenho passado. Mas, ainda assim, fiquei triste e preocupado..., olhei para o lado tinha gente dormindo. Gente que tava bem aceso na hora das músicas.Alguns mais preocupados com os besouros que entravam e voavam pelo salão. E outros com cara de tédio mesmo, de "não-tô-entendendo". O som ainda estava ruim, pra piorar. Era difícil entender o pregador se não "lêssemos sua boca" e aquilo que pronunciava.
E aí saímos..., eu um pouco satisfeito porque a palavra, lida  em seu contexto direto na bíblia e fazendo sentido com o que estou passando (que nada tem com o que o pregador quis dizer!), mas triste e insatisfeito por (re?)constatar algumas coisas:
- O que tem sido dado de alimento para os que buscam nas instituições serem satisfeitos?
- Como poderemos encontrar liberdade e/ou um ambiente propício para sermos sinceros e honestos com nossos mais profundos sentimentos?
- Onde encontraremos uma comunidade aberta pra compartilhar a vida que vivemos com Cristo, com a sociedade ao redor (amigos e inimigos) e conosco mesmo?
- Quando é que a preocupação com as pessoas vai vencer a preocupação com a liturgia e a doutrina, excencialmente institucionais?
- E porque é preciso uma vencer a outra se era pra existir somente uma e não a outra???


Liberdade, honestidade, sinceridade, cumplicidade, vidas compartilhadas..., comunidade!! Quando vamos sair do vazio das nossas instituições pra verdade da vida em comunidade contigo como centro Jesus??
Vazio..., não satisfeito mas insatisfeito com a situação...

Alexandre

By : Kadu

Conhecíamos Alexandre há mais de cinco anos. Chegou com 20 e poucos, com o cérebro já detonado pelo crack. Durante o curso de discipulado foi alcançando coerência, e, ao fim de seis meses, voltou à sua casa para fazer vesitbular, ciente do que queria: ser piloto missionário. Terminou o ensino médio, inspirou o pai a estudar e fizeram vestibular juntos. o pai passou em direito - Alexandre, ainda tratando de ser lúcido, não.
Vieram outras crises; a razão saía por uma fresta da janela, ficava uma algaravia religiosa indecifrável. Nas crises, ele nos visitava para longas conversas. Nunca foi mau o rapaz. Eu sempre lhe sabia gentil, apesar das incoerências. Meu marido tinha ouvidos para lhe decifrar as angústias no meio da verborragia. Aconselhava, ouvia.
Nos últimos meses, Alexandre começou a observar minha filha que se tornava menina moça e a notar-lhe a beleza florescendo. Ligava às três da manhã falando da menina que vira no balanço, de suas amiguinhas, do toque puro que lhe deu na perna, de como Deus ama os anjos. Meu instinto de mãe se põe de guarda. Aviso às coleguinhas e, quando Alexandre vem, eu o acompanho ao redor da floresta que circunda a comunidade.
Na terça-feira a bicicleta com adesivo Yokohama para na minha porta. Nesse dia Reinaldo está com pressa. Explica pro Alexandre:
- Tô de saída. Tenho reunião com pastores na cidade.
O rapaz insiste, mais transtornado que nunca na esperança absurda que tem em Reinaldo.
- Você é meu pai, meu pastor, eu preciso de você.
Reinaldo começa a se irritar. Explica que não dá. Alexandre implora.
- Deixa eu voltar pra viver aqui com vocês.
- Como? Você se droga, anda por aqui observando nossas crianças e me liga de madrugada falando nelas. Como posso confiar pra te deixar morar aqui?
- Não vou fazer nada com elas, só quero ser como elas, nascer de novo numa família de Deus, Reinaldo. Eu quero ser de Deus e não sei como, será que elas me ajudam?
- Hoje não posso. Tô atrasado demais. Olha, já fizemos tudo o que podíamos por você. Agora acabou.
- Como acabou? Não acaba não, olha.
E mostrou um rolo de papel higiênico que tinha nas mãos.
Reinaldo se irritou com aquele rolo - me contou depois -, mesmo assim segurou a ponta enquanto o menino desenrolava lentamente tirando de dentro uma bíblia pequena amarfanhada, pra ler o Salmo 136.
- Olha o que a Bíblia fala: "Rendei graças ao Senhor, porque seu amor dura para sempre".
E assim foi lendo parado no sol quente ao lado do carro o Salmo todo enquanto Reinaldo tetava lhe dizer que estava atrasado, que era pastor, que conhecia a Bíblia, que voltasse depois ou nem isto.
Foi-se o pastor pra reunião e o garoto em desespero para a estrada quente de bicicleta. Reinaldo disse que ainda o viu quando voltava, pedalando, percebendo o carro, mas nem o parou de novo como seria seu costume. Virou o rosto como se dissesse: "Olhe, você, meu pastor, não me ouviu, deixou que seu amor acabasse, sendo que o amor de Deus nunca acaba".
Acabou também naquela tarde a história de Alexandre e sua busca po Deus. Na manhã seguinte sua irmã nos ligou, chamando para o velório. O rapaz se matou na tarde anterior nas rodas de uma arreta de carga depois de duas outras tentativas. Choramos eu e Reinaldo muitas lágrimas de angústia, desespero e culpa, e ainda choro enquanto escrevo isto. Por nós, e por todos os Alexandres da vida que encontram na rua os levitas e não os samaritanos.



Bráulia Ribeiro, missionária em Porto Velho, RO, é autora de Chamado Radical 
(Editora Ultimato)
braulia.ribeiro@uol.com.br



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Comentário meu: ..., ..., ..., e só...

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